quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Desassossego

Depois de um dia relativamente tranquilo, mas com uma meia hora de agonia, decido, finalmente, dar uma olhada no meu blog e ver se me sobra algum ânimo para escrever umas poucas linhas. Eis que decido criar um novo blog, desta vez num semi anonimato, e coisas interessantes acontecem. 
Posto aqui, leio uma citação interessante ali e percebo que o que realmente me tem faltado é estar em contato mais íntimo com a minha merencoriedade (substantivo que acabo de criar). Como por um impulso vou até o escritório e puxo, certeiramente, o Livro do Desassossego da prateleira. Nada como um pouco do fragmentado Fernando Pessoa para nos apassiguar a alma. Ou angustiá-la de vez. 
Leio. Não a desassossegada e filha única prosa do Pessoa, mas um outro livro, um tanto maçante, mas bom. Vou dormir e não durmo. É aquele tique-taque do meu centro nervoso me dizendo que a infeliz discussão da tarde ainda vai me atormentar a vida por uns dias. Levanto. Como doce. Bebo água. Leite. Coca. Não tem jeito, sempre a coca. Decido pegar o desassossegado livro, mas antes ligo o computador e algo me leva ao blog de um colega de faculdade. Nunca mais nos falamos, vimos e nosso convívio nunca foi lá muito próximo. Porém, foi ele que me apresentou o meu admiridíssimo (sim, merece o superlativo sintético) Dostoiévski. Um cara quieto, bom e detentor de uma veia latente para a literatura. Começo a fuçar o seu blog e encontro um poema do Mia Couto, uma citação do Livro do Desassossego e alguns outros textos interessantes. 
Pois é, interessante. Bom. Tranquilizador. 
Ricardo, obrigada por ter me apresentado a literatura russa!!!

2 comentários:

  1. Já tentaram decifrar Dostoiévski pelo viés contemporâneo, via JM Coetzee. OK. Também amo literatura africana, mas desde que escrita em português. Mia Couto é grande admirador de Guimarães Rosa, que é grande admirador de Dostoiévski, que era uma metamorfose ambulante: jogador compulsivo, religioso, personalidade complexa (atenção psicólogos e paparazzi!). O lado bom disso é que ele soube jogar todos seus sofrimentos, com paixão, nos textos de seus romances e contos. O lado ruim é que ele viveu distante Rússia do século 19, escrevendo para poucos, doente, incompreendido - por tudo aquilo que eu já escrevi acima. Felizmente o mestre se imortalizou com suas personagens (milhares delas, centenas apenas em um único romance!). Não encontro romancista que o supere, assim como não encontro poeta que supere o nosso Fernando Pessoa & Cia. Autores que devem ser lidos e relidos sempre.

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  2. Felizmente o sofrimento de Dostoiévski, seu vício, loucura, doença e falta de sorte se tornaram o adubo para a escrita de romances de são têm simplicidade de enredo, riqueza em psicologia, filosofia e complexidade de personagens. Apaixonei-me. Inevitável. Fernando Pessoa, por sua vez, é a personificação da sensibilidade.
    O prazer de lê-los só pode ser expressado com um palavrão daqueles.

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