terça-feira, 23 de agosto de 2011

Pinheirinho, um peixinho curioso

Era uma vez um peixinho chamado Pinheirinho. Ele vivia em um rio calmo, de águas transparentes e repleto de vida. Pinheirinho adorava passear  com os amigos, brincar de esconde-esconde e de caçar minhocas. Mas o que ele mais gostava mesmo era de descobrir. Sim, descobrir tudo sobre tudo.
    Desde pequeno Pinheirinho vivia fazendo perguntas: “mamãe, por que os peixes nadam e não voam?”, “por que a água é molhada?”, “por que nós temos nadadeiras e não temos pernas como as pessoas?”, “por que eu não posso nadar na chuva?”.
    Um belo dia, Pinheirinho cismou que precisava saber por que se chamava Pinheirinho.
—    Mamãe, por que o meu nome é Pinheirinho?
    E lá veio a Dona Tânia Tainha, mãe de Pinheirinho, cheia de paciência para responder às perguntas do filho:
—    Meu peixinho, você se chama Pinheirinho porque seu pai e eu nos conhecemos nas águas do rio Pinheiros.
—    É mesmo? E onde fica esse rio? Por que ele tem esse nome? Ele fica muito longe? Por que nós não moramos lá?
—    Ai, meu filho, quantas perguntas! Sim, fica bem longe daqui e tem esse nome porque havia muitos pinheiros-do-paraná em suas margens.
—    E por que nós não moramos lá?
—    Nós tivemos que nos mudar, meu filho, antes de você nascer. O rio Pinheiros era um lugar maravilhoso, cheio de peixes de todos os tipos. As margens do rio eram cheias de plantas e sempre havia minhocas para todo mundo se fartar. Ah, que lugar lindo era aquele!
—    Por que era, mãe, e não é? O que aconteceu?
—    Ah, meu filho, meu peixinho querido... Aconteceu que as pessoas começaram a jogar muita sujeira no rio. Jogavam lixo, esgoto, produtos químicos que vinham das fábricas... Aquele rio lindo, onde até as pessoas nadavam conosco, acabou se tornando um rio sujo e malcheiroso onde não se pode mais nadar.
—    Mas, mãe, não dá pra gente fazer alguma coisa? A gente pode limpar o rio...
—    Meu peixotinho querido, quem dera todas as pessoas pensassem assim.
    Naquela noite, o peixinho Pinheirinho sonhou com o rio Pinheiros. Ele sonhou que todas as pessoas da cidade de São Paulo decidiram cuidar do rio e deixá-lo limpinho como era antes.

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Desassossego

Depois de um dia relativamente tranquilo, mas com uma meia hora de agonia, decido, finalmente, dar uma olhada no meu blog e ver se me sobra algum ânimo para escrever umas poucas linhas. Eis que decido criar um novo blog, desta vez num semi anonimato, e coisas interessantes acontecem. 
Posto aqui, leio uma citação interessante ali e percebo que o que realmente me tem faltado é estar em contato mais íntimo com a minha merencoriedade (substantivo que acabo de criar). Como por um impulso vou até o escritório e puxo, certeiramente, o Livro do Desassossego da prateleira. Nada como um pouco do fragmentado Fernando Pessoa para nos apassiguar a alma. Ou angustiá-la de vez. 
Leio. Não a desassossegada e filha única prosa do Pessoa, mas um outro livro, um tanto maçante, mas bom. Vou dormir e não durmo. É aquele tique-taque do meu centro nervoso me dizendo que a infeliz discussão da tarde ainda vai me atormentar a vida por uns dias. Levanto. Como doce. Bebo água. Leite. Coca. Não tem jeito, sempre a coca. Decido pegar o desassossegado livro, mas antes ligo o computador e algo me leva ao blog de um colega de faculdade. Nunca mais nos falamos, vimos e nosso convívio nunca foi lá muito próximo. Porém, foi ele que me apresentou o meu admiridíssimo (sim, merece o superlativo sintético) Dostoiévski. Um cara quieto, bom e detentor de uma veia latente para a literatura. Começo a fuçar o seu blog e encontro um poema do Mia Couto, uma citação do Livro do Desassossego e alguns outros textos interessantes. 
Pois é, interessante. Bom. Tranquilizador. 
Ricardo, obrigada por ter me apresentado a literatura russa!!!

Um dia daqueles

Hoje tive um dia daqueles. Não, não serei injusta; meu dia até que foi bom, mas a reunião que tive à tarde foi de amargar. E eu até acho que sou tolerante, na medida do possível, é claro. Mas nem a minha tolerância conseguiu apaziguar os meus nervos ao ser obrigada a ouvir tanta baboseira. Sim, obrigada, pois, como assalariada desprovida de paitrocínio, meus instintos me levam a baixar a cabeça e calar a boca. Melhor assim. Afinal, o que seria do mundo se todos pudessem dizer o que realmente pensam.
Em havendo algum leitor, por favor, perdoe o meu mau humor, excuse o desabafo pessimista, mas nem toda a Venlafaxina do mundo é capaz de deixar tudo sempre bem.

A verdadeira hipocrisia

Uma das tarefas mais difíceis que encontro no dia-a-dia é praticar a sinceridade em meio a tantas armadilhas. Como ser uma pessoa sincera e honesta quando há tantos à espreita procurando puxar o seu tapete? É duro dizer a verdade sem temer as consequências que ela pode trazer à tona. Hipocrisia... bajulação. Que seca! 


Não digas nada


 Não digas nada!
Nem mesmo a verdade 
Há tanta suavidade em nada se dizer 
E tudo se entender -  
Tudo metade 
De sentir e de ver... 
Não digas nada 
Deixa esquecer 
  
Talvez que amanhã 
Em outra paisagem 
Digas que foi vã 
Toda essa viagem 
Até onde quis 
Ser quem me agrada... 
Mas ali fui feliz 
Não digas nada.   
Fernando Pessoa